A 19ª Mostra de Cinema de Tiradentes vai se aproximando do final, trazendo, nesta quinta-feira, uma programação de filmes e de encontros que continuam agitando a cidade histórica. O dia será quase inteiramente dedicado aos longas-metragens, com o seguimento da Mostra Transições, às 18h30, exibindo “A Noite Escura da Alma”, de Henrique Dantas, no Cine-Tenda. Logo em seguida, mais dois títulos, ambos da Mostra Aurora: às 20h, “Banco Imobiliário”, de Miguel Antunes Ramos; às 22h, “Filme de Aborto”, de Lincoln Péricles. No Cine BNDES na Praça, às 21h, passa “Santo Daime - Império da Floresta”, de André Sampaio.
Mais cedo, às 15h, a Sessão Debate apresenta “Um Salve Doutor”, de Rodrigo Sousa & Sousa, seguido de um bate-papo com os realizadores. Por sua vez, os curtas-metragens continuam em exibição, com a Mostra Panorama – Série 4 às 17h, no Cine-Tenda.
O BRASIL NO ESTRANGEIRO
No Seminário do Cinema Brasileiro, na tarde de quarta-feira, um grupo de programadores e curadores de festivais de cinema se reuniu no Cine-Teatro para conversar com o público. O tema da mesa, Estratégias de Festivais Internacionais e a Visão do Programador sobre o Cinema Brasileiro, teve por objetivo apresentar casos e experiências dos participantes na relação sempre complicada entre quem escolhe e quem exibe produções de diversos países em eventos audiovisuais.
O crítico argentino Roger Koza, membro da Fipresci (associação internacional de críticos), revelou sua surpresa em não ter visto filmes como “Branco Sai Preto Fica”, de Adirley Queirós, e “A Vizinhança do Tigre”, de Affonso Uchôa, circulando por festivais internacionais. Os dois longas foram exibidos na Mostra de Tiradentes em 2014.
“Se filmes como estes não tiveram a repercussão que deveriam ter fora do país, então existe algum erro de percepção ou de comunicação em como estão olhando para o cinema brasileiro, e precisamos parar e pensar sobre isso”, comentou. Ele acredita que os curadores precisam estar atentos ao que veem, saírem dos lugares-comuns e, em alguns casos, lutar arduamente por um ou outro filme que os conquistem.
Eduardo Valente, assessor internacional da Ancine, comentou de situações em que produtores brasileiros buscaram exibir filmes em festivais de grande envergadura, como Cannes e Veneza, mas tinham perfil para eventos menos badalados. “Às vezes, exibir um filme em Cannes pode ser terrível”, afirmou.
Ele citou alguns casos em que determinados trabalhos conseguiram se destacar, caso recente de “Boi Neon”, de Gabriel Mascaro, que começou sua trajetória no Festival de Veneza em 2015 e vem recebendo atenção dentro e fora do Brasil. “Algumas estratégias de lançamento nesses festivais são muito importantes para a carreira de um filme”, completou Valente.
Nos debates sobre os filmes exibidos na Mostra, o Cine-Teatro tem ficado lotado todas as manhãs. Filmes das seções Transições, Aurora e Foco são discutidos diariamente, com a presença de críticos e realizadores. Na quarta-feira, na conversa sobre o longa “Aracati”, de Julia de Simone e Aline Portugal, a questão da perseguição ao vento, mostrada em cena, foi o mote da discussão. “Quando ganhamos o edital para fazer o filme, precisamos pedir para adiar as gravações, porque o vento só aparece naquele região num período específico do ano”, contou Aline.
No encontro sobre “Tropykaos”, de Daniel Lisboa, o diretor baiano frisou que seu maior interesse foi fazer um filme sobre um personagem fracassado e frustrado, que não consegue se conectar com Salvador, sua cidade. “Eu amo o Guima, mas sei que ele não é alguém com quem o público se identifica. Eu busquei tratar dessa figura meio à margem, que nunca dá certo e que não se ajusta com o espaço onde ele vive”, disse o cineasta.
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